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Mostrando postagens de setembro, 2012

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia (Gregório de Matos)

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N este poema Gregório de Matos reconhece a efemridade da vida e admite um paradoxo: a instabilidade do mundo como única circunstância constante. Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria.    Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia?   Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza.   Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância.

Indiferença (Guilherme de Almeida)

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  Por muito tempo achei que o contrário de amor era ódio. Mas hoje entendo que vai muito além disso, o contrário do amor é indiferença!   H oje, voltas-me o rosto, se ao teu lado passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto. E assim fazemos, como se com isto, pudéssemos varrer nosso passado. Passo esquecido de te olhar, coitado! Vais, coitada, esquecida de que existo. Como se nunca me tivesses visto, como se eu sempre não te houvesse amado Mas, se às vezes, sem querer nos entrevemos, se quando passo, teu olhar me alcança se meus olhos te alcançam quando vais. Ah! Só Deus sabe! Só nós dois sabemos. Volta-nos sempre a pálida lembrança. Daqueles tempos que não voltam mais!

Há quase um ano não 'screvo (Fernando Pessoa)

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  Neste poema, Pessoa apresenta o fazer poético dissociado da meditação, ele se sente incapaz de escrever porque tem a mente pesada e seus poemas já não fluem livremente.   Há quase um ano não screvo. Pesada, a meditação Torna-me alguém que não devo Interromper na atenção. Tenho saudades de mim, De quando, de alma alheada, Eu era não ser assim, E os versos vinham de nada. Hoje penso quanto faço, Screvo sabendo o que digo... Para quem desce do espaço Este crepúsculo antigo?    

Foi então que o encontro (Larissa Rocha)

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  Foi então que o encontro Subitamente virou desentendimento Deixou na boca o gosto amargo De tristeza e desalento. E o que antes eram suspiros de deleite Hoje são soluços de saudade, Chegou ao fim nossa ilusão... Despertamos para dura realidade. “Não será sempre assim”, ele dissera. Mas com a distância entre nós Também, pudera! Tudo acabou como dissabor Só não acabou ainda Oh não, o nosso amor!   Mais poemas meus em http://www.astormentas.com/PT/par/poemas/Larissa%20Rocha

Amor é síntese (Mário Quitana)

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  Por favor, não me analise Não fique procurando cada ponto fraco meu. Se ninguém resiste a uma análise profunda, Quanto mais eu... Ciumento, exigente, inseguro, carente Todo cheio de marcas que a vida deixou Vejo em cada grito de exigência Um pedido de carência, um pedido de amor. Amor é síntese É uma integração de dados Não há que tirar nem pôr Não me corte em fatias Ninguém consegue abraçar um pedaço Me envolva todo em seus braços E eu serei o perfeito amor.

Versos do dia

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Resíduo (Carlos Drummond de Andrade)

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    (...) Pois de tudo fica um pouco. Fica um pouco de teu queixo no queixo de tua filha. De teu áspero silêncio um pouco ficou, um pouco nos muros zangados, nas folhas, mudas, que sobem.   Ficou um pouco de tudo no pires de porcelana, dragão partido, flor branca, ficou um pouco de ruga na vossa testa, retrato.   (...) E de tudo fica um pouco. Oh abre os vidros de loção e abafa o insuportável mau cheiro da memória.    

Canção do exílio (Gonçalves Dias)

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É  claro que Goncalves Dias era um romântico e sonhador, sua obra está incluída na primeira geração do romantismo, que tinha um forte carater nacionalista e acima de tudo idealista , existe inclusive um trecho do poema no hino nacional:   " Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores." Contudo, achei interessante que fosse esse o poema a ser escolhido, enfim, aqui vai o poema em consideração ao dia da independência:   Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que

Versos do dia

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Longe de ti (Olavo Bilac)

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XXXI Longe de ti, se escuto, porventura, Teu nome, que uma boca indiferente Entre outros nomes de mulher murmura, Sobe-me o pranto aos olhos, de repente... Tal aquele, que, mísero, a tortura Sofre de amargo exílio, e tristemente A linguagem natal, maviosa e pura, Ouve falada por estranha gente... Porque teu nome é para mim o nome De uma pátria distante e idolatrada, Cuja saudade ardente me consome: E ouvi-lo é ver a eterna primavera E a eterna luz da terra abençoada, Onde, entre flores, teu amor me espera.

Tempo marcado (Rafael Rocha)

Quando a gente se achar por essas ruas do mundo O que irá rolar? Serão águas deslizando de cascatas gigantescas Ou um pequeno rio correndo para o mar? Quando meus olhos olharem dentro de teus olhos O que irão falar? Dirão talvez que teus piscares e olhares Querem me decifrar? Quando meus dedos enlaçarem os teus dedos Como irão se apertar? Esquentarão palma a palma as duas mãos Para não acenar Aquele adeus que se apresenta sempre perto Querendo ser distante. Duas mãos enlaçadas fazem um sonho irreal Tornar-se delirante. E assim a vida marca outra vida por esse caminho De corpo e de olhos e de mãos. Marcando horas e minutos esperados nesse tempo Mesmo que sejam vãos.   http://www.astormentas.com/PT/par/poemas/Rafael%20Rocha