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Mostrando postagens de outubro, 2012

Se te amo, não sei! (Gonçalves Dias)

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  Amar! se te amo, não sei. Oiço aí pronunciar Essa palavra de modo Que não sei o que é amar. Se amar é sonhar contigo, Se é pensar, velando, em ti, Se é ter-te n'alma presente Todo esquecido de mim! Se é cobiçar-te, querer-te Como uma bênção dos céus A ti somente na terra Como lá em cima a Deus; Se é dar a vida, o futuro, Para dizer que te amei: Amo; porém se te amo Como oiço dizer, — não sei.  

Noite (Fernando Namora)

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Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher vago e belo e voluptuoso num bailado erótico, com o cenário dos astros, mudos e quedos. Estrelas que as suas mãos afagam e a boca repele, deixai que os caminhos da noite, cegos e rectos como o destino, suspensos como uma nuvem, sejam os caminhos dos poetas que lhes decoraram o nome. Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher! esconde a vida no seio de uma estrela e fá-la pairar, assim mágica e irreal, para que a olhemos como uma lua sonâmbula.

Soneto XXVIII (Cláudio Manuel da Costa)

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Faz a imaginação de um bem amado, Que nele se transforme o peito amante; Daqui vem, que a minha alma delirante Se não distingue já do meu cuidado. Nesta doce loucura arrebatado Anarda cuido ver, bem que distante; Mas ao passo, que a busco, neste instante Me vejo no meu mal desenganado. Pois se Anarda em mim vive, e eu nela vivo, E por força da idéia me converto Na bela causa de meu fogo ativo; Como nas tristes lágrimas, que verto, Ao querer contrastar seu gênio esquivo, Tão longe dela estou, e estou tão perto. Publicado no livro Obras (1768).

Por mim (Álvares de Azevedo)

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  Teus negros olhos uma vez fitando Senti que luz mais branda os acendia, Pálida de langor, eu vi, te olhando, Mulher do meu amor, meu serafim, Esse amor que em teus olhos refletia... Talvez! - era por mim? Pendeste, suspirando, a face pura, Morreu nos lábios teus um ai perdido... Tão ébrio de paixão e de ventura! Mulher de meu amor, meu serafim, Por quem era o suspiro amortecido? Suspiravas por mim?... Mas... eu sei!... ai de mim? Eu vi na dança Um olhar que em teus olhos se fitava... Ouvi outro suspiro... d'esperança! Mulher do meu amor, meu serafim, Teu olhar, teu suspiro que matava... Oh! não eram por mim.

Horas Mortas (Alberto de Oliveira)

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  Breve momento após comprido dia De incômodos, de penas, de cansaço Inda o corpo a sentir quebrado e lasso, Posso a ti me entregar, doce Poesia. Desta janela aberta, à luz tardia Do luar em cheio a clarear no espaço, Vejo-te vir, ouço-te o leve passo Na transparência azul da noite fria. Chegas. O ósculo teu me vivifica Mas é tão tarde! Rápido flutuas Tornando logo à etérea imensidade; E na mesa em que escrevo apenas fica Sobre o papel — rastro das asas tuas, Um verso, um pensamento, uma saudade.

Precisão (Clarice Lispector)

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  O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.

Pronominais (Oswald de Andrade)

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  Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro

O primeiro encontro (Larissa Rocha)

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  Se meus olhos cegos de paixão Encontrarem com os teus Nesse dia... Ai meu deus! O que eles dirão? Quando eu finalmente encontrar Teus olhos verdes-claros De beleza e brilho raros Ficarei pálida como o luar. No acelerar do coração Quando as mãos se unirem E se as palavras sumirem? O que faremos então? No calor da tua tez Deslizo os dedos vacilantes Até teus lábios delirantes Suspirarem de languidez! Da palavra já esquecida Ficará claro o desejo... Dar-te-ei só um beijo, O melhor de tua vida!   Mais poemas meus em http://www.astormentas.com/PT/par/poemas/Larissa%20Rocha