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Mostrando postagens de maio, 2012

Camilo Castelo Branco

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A outra metade Quando este corpo meu esfacelado Baixar á leiva húmida da cova, Hão de os jornais carpir a infausta nova, Taxando-me de sábio consumado. Estalará na imprensa enorme brado, Pedindo a ressurgência d’um Canova Que a morta face em mármore renova Para insculpir meu busto laureado. E algum dos imbecis necrologistas, Com soluçantes vozes de saudade, Dirá em ricas frases nunca vistas: “Esse génio imortal, rei dos artistas, No céu pede ao Senhor que a outra metade Reparta por vocês, ó jornalistas!” Caros leitores, esta é uma pequena homenagem ao romancista, cronista e poeta português Camilo Castelo Branco . Sua obra é predominantemente romântica , um de seus romances mais conhecidos é Amor de Perdição e na poesia destacou-se Nas Trevas. E a frase na imagem acima, acredito que traduz a essência da poesia, quem escreve sabe =)

Rosas (Alphonsus de Guimarães)

Rosas que já vos fostes, desfolhadas Por mãos também que Já foram, rosas Suaves e tristes! Rosas que as amadas, Mortas também, beijaram suspirosas... Umas rubras e vãs, outras fanadas, Mas cheias do calor das amorosas... Sois aroma de almofadas silenciosas, Onde dormiram tranças destrançadas. Umas brancas, da cor das pobres freiras, Outras cheias de viço de frescura, Rosas primeiras, rosas derradeiras! Ai! Quem melhor que vós, se a dor perdura, Para coroar-me, rosas passageiras, O sonho que se esvai na desventura ? (Alphonsus de Guimarães)

17 de Maio (Larissa Rocha)

Para Marcelo, em seu aniversário. Verei cair a noite saudosa E pelo anjo que suspiro tremendo Meu olhar se enche de pranto E de amor vou padecendo. Deito-me nessa solidão Que a noite escura afoga e dor Fecho os olhos e em silêncio Te mando minhas juras de amor. Em minhas noites sonho muito As ternuras do meu amante e amigo Sonho que sou tua querida Sonho teus amores, meu bem, eu sonho contigo! Penso delirante em beijar-te os lábios Oh! Deixa-me repousar em teu peito Sentir o aroma inebriante de teus cabelos... A febre ardente me consome no leito! Bem sabes que pálida aos teus pés vivo És do céu a estrela mais brilhante Levanto a ela meus olhos em pranto Suspiro...és também a mais distante! Assim na  solidão amo-te à distancia E sonho, meu bem... ai como sonho! Quando te procuro só encontro saudade É o que me deixa com olhar tristonho. E adoro-te tão apaixonadamente

A minha resolução (Laurindo Rabelo)

O que fazes, ó minh'alma! Coração, por que te agitas? Coração, por que palpitas? Por que palpitas em vão? Se aquele que tanto adoras Te despreza, como ingrato, Coração, sê mais sensato, Busca outro coração! Corre o ribeiro suave Pela terra brandamente, Se o plano condescendente Dele se deixa regar; Mas, se encontra algum tropeço Que o leve curso lhe prive, Busca logo outro declive, Vai correr noutro lugar. Segue o exemplo das águas, Coração, por que te agitas? Coração, por que palpitas? Por que palpitas em vão? Se aquele que tanto adoras Te despreza, como ingrato, Coração, sê mais sensato, Busca outro coração! Nasce a planta, a planta cresce, Vai contente vegetando, Só por onde vai achando Terra própria a seu viver; Mas, se acaso a terra estéril Às raízes lhe é veneno, Ela vai noutro terreno As raízes esconder. Segue o exemplo da planta, Coração, por que te agitas? Coração, por que palpitas? Por que palpitas em vão? Se aquele que tanto adoras Te despreza, como ingra

Perdoa-me, visão dos meus amores (Álvares de Azevedo)

Perdoa-me, visão dos meus amores, Se a ti ergui meus olhos suspirando! ... Se eu pensava num beijo desmaiando Gozar contigo uma estação de flôres! De minhas faces os mortais palores, Minha febre noturna delirando, Meus ais, meus tristes ais vão revelando Que peno e morro de amorosas dores... Morro, morro por ti! na minha aurora A dor do coração, a dor mais forte, A dor de um desengano me devora... Sem que última esperança me conforte, Eu - que outrora vivia! - eu sinto agora Morte no coração, nos olhos morte!

Teus Olhos (Junqueira Freire)

Luís José Junqueira Freire, poeta baiano que junto com Alvares de Azevedo faz parte da segunda geração do romantismo brasileiro. Que lindos olhos Que estão em ti! Tão lindos olhos Eu nunca vi... Pode haver belos Mas não tais quais; Não há no mundo Quem tenha iguais. São dois luzeiros, São dois faróis: Dois claros astros, Dois vivos sóis. Olhos que roubam A luz de Deus: Só estes olhos Podem ser teus. Olhos que falam Ao coração: Olhos que sabem Dizer paixão. Têm tal encanto Os olhos teus! — Quem pode mais? Eles ou Deus?

Este inferno de amar (Almeida Garrett)

Este inferno de amar — como eu amo! Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi? Esta chama que alenta e consome, Que é a vida — e que a vida destrói — Como é que se veio a atear, Quando — ai quando se há-de ela apagar?   Eu não sei, não me lembra; o passado, A outra vida que dantes vivi Era um sonho talvez… — foi um sonho — Em que paz tão serena a dormi! Oh! que doce era aquele sonhar… Quem me veio, ai de mim! despertar?   Só me lembra que um dia formoso Eu passei… dava o Sol tanta luz! E os meus olhos, que vagos giravam, Que fez ela? Eu que fiz? — Não no sei Mas nessa hora a viver comecei…

Súplica I (Florbela Espanca)

Digo pra mim Quando ele passa: Ave Maria Cheia de Graça! E quando ainda Mal posso vê-lo: Bendito Deus Como ele é belo!

Soneto 17 (shakespeare)

Se te comparo a um dia de verão És por certo mais belo e mais ameno O vento espalha as folhas pelo chão E o tempo do verão é bem pequeno. Ás vezes brilha o Sol em demasia Outras vezes desmaia com frieza; O que é belo declina num só dia, Na terna mutação da natureza. Mas em ti o verão será eterno, E a beleza que tens não perderás; Nem chegarás da morte ao triste inverno: Nestas linhas com o tempo crescerás. E enquanto nesta terra houver um ser, Meus versos vivos te farão viver.

Poeminha do contra (Mário Quitana)

Todos estes que aí estão Atravancando o meu caminho, Eles passarão. Eu passarinho! * Mário Quitana wins!! 

Uma taça feita de um crânio humano (Lord Byron)

Não recues! De mim não foi-se o espírito... Em mim verás - pobre caveira fria - Único crânio que, ao invés dos vivos, Só derrama alegria. Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte Arrancaram da terra os ossos meus. Não me insultes! empina-me!... que a larva Tem beijos mais sombrios do que os teus.   Mais vale guardar o sumo da parreira Do que ao verme do chão ser pasto vil; - Taça - levar dos Deuses a bebida, Que o pasto do réptil. Que este vaso, onde o espírito brilhava, Vá nos outros o espírito acender. Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro ...Podeis de vinho o encher!   Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça, Quando tu e os teus fordes nos fossos, Pode do abraço te livrar da terra, E ébria folgando profanar teus ossos.   E por que não? Se no correr da vida Tanto mal, tanta dor ai repousa? É bom fugindo à podridão do lado Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!... Lord Byron