Poetas para conhecer melhor - Bocage

Continuando a nossa série de poetas para conhecer melhor durante o isolamento, vou continuar em Portugal com o poeta dessa semana: Manuel Maria Barbosa du Bocage.
O poeta de hoje nasceu em Setúbal em 1765 e morreu em Lisboa em 1805. Em 1783 ele se alistou na marinha, fez o curso mas desertou no final, apesar disso foi convocado como oficial da marinha para embarcar para a Índia. Ao fugir da marinha, viveu em Macau e retornou à Portugal em 1790. Vamos conhecer um pouco mais sobre ele por suas próprias palavras, lendo o poema "Autorretrato":
Autorretrato
- Magro, de olhos azuis, carão moreno,
- Bem servido de pés, meão na altura,
- Triste de facha, o mesmo de figura,
- Nariz alto no meio e não pequeno;
- Incapaz de assistir num só terreno,
- Mais propenso ao furor do que à ternura;
- Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
- De zelos infernais letal veneno;
- Devoto incensador de mil deidades
- (Digo, de moças mil) num só momento,
- E somente no altar amando os frades,
- Eis Bocage, em quem luz algum talento;
- Saíram dele mesmo estas verdades,
- Num dia em que se achou mais pachorrento.
- Sobre sua obra, Bocage foi um grande expoente do arcadismo português, e se dividiu entre satírica e lírica. Ele participou da associação de poetas denominada "nova Arcádia", em 1797 nosso poeta foi preso acusado de "impiedade e antimonarquismo" após publicar o poema Cartas à Marília:
- Pavorosa Ilusão de Eternidade,Terror dos vivos, cárcere dos mortos;D’almas vãs sonhos vão, chamado inferno;Sistema de política opressora,Freio que a mão dos déspotas, dos bonzosForjou para a boçal credulidade;Dogma funesto, que o remorso arraigasNos termos corações, e a paz lhe arrancas:Dogma funesto, detestável crença,Que envenena delícias inocentes! (...)
- Após sua liberdade, Bocage se dedicou a traduzir textos em latim e francês.
- Vamos conferir mais alguns poemas:
- Oh retrato da Morte, oh Noite amiga
- Oh retrato da Morte, oh Noite amiga,Por cuja escuridão suspiro há tanto!Calada testemunha de meu pranto,De meus desgostos secretária antiga!Pois manda Amor que a ti somente os diga,Dá-lhes pio agasalho no teu manto;Ouve-os, como costumas, ouve, enquantoDorme a cruel, que a delirar me obriga.E vós, oh cortesãos da escuridade,Fantasmas vagos, mochos piadores,Inimigos, como eu, da claridade!Em bandos acudi aos meus clamores;Quero a vossa medonha sociedade,Quero fartar meu coração de horrores.
- Esperança Amorosa
- Grato silêncio, trémulo arvoredo,Sombra propícia aos crimes e aos amores,Hoje serei feliz! --- Longe, temores,Longe, fantasmas, ilusões do medo.Sabei, amigos Zéfiros, que cedoEntre os braços de Nise, entre estas flores,Furtivas glórias, tácitos favores,Hei-de enfim possuir: porém segredo!Nas asas frouxos ais, brandos queixumesNão leveis, não façais isto patente,Quem nem quero que o saiba o pai dos numes:Cale-se o caso a Jove omnipotente,Porque, se ele o souber, terá ciúmes,Vibrará contra mim seu raio ardente.
- Por hoje é só, espero que vocês tenham gostado de ler um pouco de Bocage :)
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