Poetas para conhecer melhor - Fernando Pessoa

Fernando Pessoa (1954) - Almada Negreiros (1893-1970) | Flickr

Olá, querido leitor! Se você não estava hibernando nos últimos dias, você está ciente da pandemia de covid-19 que infelizmente assola o mundo. Como muita gente está passando esse período em casa, pensei em fazer uma série de posts especiais falando sobre alguns poetas que você deveria conhecer melhor durante esse período de isolamento. Vou começar essa série falando sobre um dos meus preferidos da vida: Fernando Pessoa 💓

Mas o que fez de Fernando Pessoa o nome da literatura portuguesa mais conhecido do mundo? Na minha opinião, é principalmente o intimismo da sua obra, o jeito que ele fala das emoções humanas e nos faz mergulhar em nós mesmos. Pessoa foi um "solitário por natureza", com pouca vida social e quase sem vida amorosa, ele era autodidata, sozinho na biblioteca estudou filosofia, sociologia, religião e é claro, literatura. (Temos aqui alguém que provavelmente não ia ter problemas com o isolamento social).

A vida

Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa em 13 de junho de 1888, e ficou órfão aos 5 anos de idade, como seu padrasto era militar, o jovem Fernando se mudou com a família para a África do Sul, lá estudou e escreveu seus primeiros poemas (em inglês).

Pessoa ingressou no curso de Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa, mas abandonou em 1907. Na literatura, o poeta começou sua carreira como crítico literário da revista "Águia" e começou a escrever para a revista "A Renascença", em 1915 começou a liderar o grupo mentor da revista "Orpheu", essa revista foi um marco do modernismo português e foi responsável por espalhar muitas idéias futuristas. Foi nela que Pessoa também publicou muitos poemas que chocaram a sociedade conservadora da época, como por exemplo "Opiário", que podemos ler um trechinho abaixo:

"É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
Já não encontro a mola pra adaptar-me.
... "

O poeta morreu em Lisboa, em 1935 com 47 anos, vítima de cirrose hepática.

A obra

Agora vamos seguir falando de seus heterônimos, ou seja, os indivíduos diferentes que Fernando Pessoa escrevia, cada um com uma personalidade e estilo diferentes. Vocês vão perceber que cada um tem, inclusive, uma história de vida particular, então Pessoa não se limita apenas a alternar os estilos, ele praticamente conta uma história de vida diferente, com diferentes bagagens, com cada heterônimo.

Alberto Caeiro: Nasceu em Lisboa em 1889, passou a maior parte da vida no campo e tinha apenas o ensino primário. Sua poesia era simples e ligada à natureza. 

O Guardador de Rebanhos
"Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

..."
Álvaro de Campos: Esse heterônimo nasceu em Tavira em 1890, estudou engenharia mecânica e naval na Escócia, numas férias, fez uma viagem ao oriente, que resultou no poema "opiário" (cujo trecho foi citado mais acima). A escrita de Álvaro de Campos era impulsiva e rebelde.

Ode Triunfal

"À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com o que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
... "

Ricardo Reis: Nasceu em 1887 no porto, estudou em um colégio jesuíta, era médico e vivia no Brasil, deixou Portugal por suas ideias monárquicas. Os principais temas em suas poesias são harmonia, clareza, equilíbrio e serenidade.

Amo o que Vejo
"Amo o que vejo porque deixarei 
 Qualquer dia de o ver. 
 Amo-o também porque é. 

No plácido intervalo em que me sinto, 
Do amar, mais que ser, 
Amo o haver tudo e a mim. 

Melhor me não dariam, se voltassem, 
Os primitivos deuses, 
Que também, nada sabem."

Você pode estar se perguntando: "ué, mas Fernando pessoa não escreveu nada dele mesmo?" 
Sim! ele publicou 4 livros em nome próprio, colaborou com a revista "Presença" e tinha um estilo mais modernista. Entre os poemas mais conhecidos, está o autopsicografia

Autopsicografia
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."

Bem, por hoje é só, espero que você tenha gostado, e se tiver alguma sugestão de escritor que você gostaria de ver por aqui, por favor comente! E se você se interessou por Fernando Pessoa, acesse o site da Casa Fernando Pessoa (museu em homenagem ao poeta que fica em Portugal). Você pode encontrar outras informações interessantes lá: https://casafernandopessoa.pt/pt/cfp

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sou um evadido (Fernando Pessoa)

Teus Olhos (Junqueira Freire)

Fui um doudo em sonhar tantos amores (Álvares de Azevedo)