Augusto dos Anjos: Uma visão trágica da vida

"Ah! Um urubu pousou na minha sorte!"

        É assim que começa a segunda estrofe de um dos poemas mais conhecidos de Augusto dos Anjos: Budismo moderno. Essa tragicidade é uma das características mais marcantes do poeta, que já teve sua obra classificada como simbolista, parnasiana e pré-modernista. Sem entrar nessa questão das escolas literárias, quero fazer uma breve reflexão sobre essa visão trágica que permeia sua poesia.  
        O poeta paraibano Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu em Pau d'Arco em 1884 e morreu aos 30 anos, vítima de pneumonia, na cidade de Leopoldina - MG. Augusto dos Anjos morreu sem ter a sua poesia reconhecida, pelo contrário, ela foi rejeitada por ser pessimista e trágica, falando abertamente sobre a morte e a deterioração do corpo.
       De fato, o poeta fugiu dos lugares-comum da poesia da época, usando palavras incomuns no vocabulário de outros poetas contemporâneos, e misturando uma reflexão filosófica e existencial. Além do pessimismo, a descrença no amor, e a profunda melancolia em relação à vida, que já aparecem em seus primeiros poemas, também foram fortes marcas na poesia do autor. No poema "queixas noturnas", Augusto dos Anjos escancara todos esses sentimentos, como se pode ver nos versos:

(...)
"Bati nas pedras dum tormento rude
E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a Alegria é uma doença
E a Tristeza é minha única saúde."
(...)
"Sobre histórias de amor o interrogar-me
É vão, é inútil, é improfícuo, em suma;
Não sou capaz de amar mulher alguma
Nem há mulher talvez capaz de amar-me.

O amor tem favos e tem caldos quentes
E ao mesmo tempo que faz bem, faz mal;
O coração do Poeta é um hospital
Onde morreram todos os doentes."
(...)
"Melancolia! Estende-me a tu'asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o Prazer vier procurar-me
Dize a este monstro que eu fugi de casa!"
 
          É inegável que a poesia de Augusto tinha alguma relação com a filosofia do trágico, que o ligava a filósofos como Nietzsche e Schopenhauer. O sofrimento está sempre presente na obra augustiniana, assim como na de Schopenhauer, que ultrapassa a existência do ser humano, e fica para a eternidade.
        Augusto dos Anjos também escreveu um poema dedicado a Nietzsche, transcrito abaixo, o que mostra o contato do poeta com a filosofia. Muito embora o poema dedicado a Nietzsche parece cheio de descrença ao filósofo, pois em Nietzsche encontramos mais uma visão de mundo onde a vida deve ser vivida ao máximo, aceitando o destino trágico, mas não tendo como finalidade a morte, como em Schopenhauer.

Para que nesta vida o espírito esfalfaste
Em vãs meditações, homem meditabundo?
– Escalpelaste todo o cadáver do mundo
E, por fim, nada achaste… e, por fim, nada achaste!…
A loucura destruiu tudo o que arquitetaste
E a Alemanha tremeu ao teu gemido fundo!…
De que te serviu, pois, estudares profundo
O homem e a lesma e a rocha e a pedra e o carvalho e a haste?
Pois, para penetrar o mistério das lousas,
Foi-te mister sondar a substância das cousas
– Construíste de ilusões um mundo diferente,
Desconheceste Deus no vidro do astrolábio
E quando a Ciência vã te proclamava sábio,
A tua construção quebrou-se de repente!

        O intuito desse post foi mostrar que nossos autores preferidos também são cheios de referências, e que se a gente for procurar entender a fundo suas obras, nosso conhecimento de mundo se expande e jamais volta a ser como era antes.
        E você, sobre qual outro autor você gostaria de conhecer melhor as referências? Deixe sua sugestão, e quem sabe ele não vira assunto do próximo post.
Até a próxima :) 

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